A todxs xs insurretxs:
A hegemonia do poder foi colocada em cena no dia 14 de agosto às 7 da manhã, quando efetivos do GOPE ingressaram no lugar onde habito ou habitava, kasa okupada “La Crota”, tirando a cortina da nossa biblioteca, o CDAI (Centro de Documentação Anarquista Itinerante), amarrando-a a um automóvel. Ao escutar o estrondo, pude apenas sair ao pátio onde a polícia, armada até os dentes e com sua prepotência características, me levam. Posteriormente sou levada a uma habitação onde me foram lidas as causas pelas quais fui detida. Dentro do mesmo procedimento me efetuaram um exame nas mãos, onde buscavam traços de explosivos. Tal exame foi feito sem eu estar a par nem me explicarem nada: erro garrafal de minha parte. O mesmo exame foi realizado em duas pessoas que se encontravam em meu amado lar, Vinicio Aguilera e Diego Morales, o qual é a única prova que a polícia possui para nos culpar.
Me despedi de meus companheiros irmãos, cachorrxs e gatxs. Um de meus companheiros de 4 patas jamais deixou de rosnar para a polícia. Não se afastou de nós. Acariciei seu lombo e me dirigiram até a parte dianteira da casa, a biblioteca (CDAI), que estava destruída, como um postal clássico dos regimes totalitários. Neste momento me foram colocadas as algemas que me acompanhariam por várias horas em repetidas ocasiões. Ao sair de meu amado lar, o qual o procurador chamaria de “centro de poder”, a imprensa buscaria a tomada e/ou foto perfeita dos “colocadores de bombas”. Só receberam nosso mais profundo desprezo. Com a cabeça nunca abaixada, aproveitei a ocasião para vociferar uma frase pelxs presxs mapuches, que atualmente se encontram em greve de fome. No automóvel da polícia consegui escutar alguma noticia difusa. Ao chegar à 33ª Delegacia encontrei vários pessoas na mesma situação que eu e com certeza seguiriam chegando outras. Somos 14. O controle de detenção se encontrava cheio de companheirxs, amigxs, familiares, afins, irmãos, os quais assim como nós sentiam a incerteza. Associação Ilícita Terrorista e colocação de artefato explosivo são as acusações que me imputaram. A formalização se realizaria na terça-feira.
Ao sairmos da sala conseguimos escutar os gritos cheios de ira e raiva dxs nossxs companheirxs. Gritos que remexeram o mais profundo e encheram de força para o que vem. Não estamos sós! Suas ações e atitudes me enchem de orgulho!!! A espera pela formalização das acusações foi eterna. Incomunicáveis, sem ver nada de notícias, sem sequer um lápis. Ao chegar o dia no qual o Poder trataria de nos deixar o maior tempo possível na prisão, conseguimos entre as barras e algemas tocar as mãos de nossxs companheirxs e a gritos cruzar alguma palavra.
Na audiência se restringiu a entrada a um familiar por cada acusadx. A Igreja se somava desta vez a Procuradoria Sul e o Ministério do Interior. O procurador Alejandro Peña começou sua verborragia com os fundamentos da acusação de conspiração terrorista (ao qual só existe na sua cabeça). Segundo este, a organização é informal, democrática e horizontal. Nos causou riso ao dizer isto. Tantos anos de investigação para tão complexa resolução? Que precária mentalidade para tão ilustres funcionários. Posteriormente segue com as provas de cada acusadx: elementos como livros, fotos, escritos, escutas telefônicas, PCs, pendrives, vídeos, cartazes e, provavelmente, este mesmo comunicado seriam o sustento de nossa periculosidade. Como se o circo fosse pouco, em um ato maquiavélico e insano do tão respeitado procurador, mostra fotografias de Maurício Morales morto após detonar o artefato explosivo que estava direcionado à escola de carcereiros, em maio de 2009. Buscava nos quebrar, mas só alimentou nosso ódio. Uma grande prova seria a declaração de Gustavo Fuentes Aliaga, vulgo “El Grillo”, traficante que no dia 31 de dezembro de 2008 apunhalava 7 vezes a sua esposa, Candelaria Cortéz-Monroy. Cento e oitenta dias de investigação são os que outorgou o juiz.
Mas já não seríamos 14, mas 8. Seis companheirxs não permaneceriam sequestradxs nas masmorras do capital. Um forte abraço para elxs. Não basta os 4 procuradores e os anos de investigação para buscar novos antecedentes para montar uma artimanha de proposições e assim nos deixar na prisão.
Na atualidade me encontro na SEAS (Sessão de Alta Segurança) do CPF (Centro Penitenciário Feminino) de Santiago. Continuarei com minha dieta vegana. A luta contra a dominação não se negocia até as últimas conseqüências. Orgulhosa do que sou e dos meus, abraço cada gesto de solidariedade e rebeldia. Não me calarão. Ninguém mais que o indivíduo pode e tem que lutar por sua liberdade, nada mais do que movido por seu coração. Que a natureza selvagem proteja os queridos felinos que correm pelos telhados e não chegue uma noite de muitos negros agouros. E a todxs hoje e sempre:
“Nem deus, nem amo”
Com o coração feito merda, mas batendo mais forte que nunca!!!
Pelo fim de toda dominação e exercício de autoridade, procurem que viva a anarquia.
Mónica Caballero, SEAS, CPF, Santiago do $hile. Presx Anarquista.
agência de notícias anarquistas-ana
tarde cinzenta
o nevoeiro
pulveriza o pinhal
Rogério Martins